Usage of a translation app is recommended. It won’t be perfect, but I won’t try and rewrite my poetry into other languages, and it will be enough for you to understand the overall feeling. You’re welcome to give us your own translation of it in the comments, if you want.
Desde que foste, vacilo
entre memórias de ti
como se bêbedo num labirinto.
Encontro-te nos botões das travessias de peões,
nos bancos azul-coçado de uma travessia sobre o Tejo,
na memória dos teus dedos sobre os meus na manete de mudanças.
Foda-se o mundo inteiro,
encontro-te em pedaços de poemas
escritos nas facturas de compras –
massa para pizza, cogumelos, ananás,
gomas-tijolo;
nos ovos mal cozidos e na forma ridícula como desperdiçavas metade deles.
Encontro-te na temperatura do esquentador,
no desenho da tua cabeça na almofada
(não, ainda não a ajeitei desde que foste)
no banco de jardim onde fumámos as nossas histórias
na escova de dentes cor-de-rosa
na galeria do meu telemóvel
nas notificações que chegam e nas que não chegam
nos convites que recebo que não são teus.
Encontro-te no sabão
(nunca gostaste de gel de banho)
e esfrego o
Palmolive de azeitona numa tentativa inútil de cheirar a ti.
Tornei-me dealer de mangas
e corto-as finas para o pequeno almoço
ao som de
Corcovado
e
Garota de Ipanema,
e só quando o cheiro a queimado me tira do torpor
me lembro que
nunca
mais
vais chegar aqui,
desgrenhada e sonolenta e preguiçosa como sempre.
Atiro pão carbonizado para o lixo como se arrancasse parte de ti.
No meio de tanto de mim que ainda te pertence,
deixo o pequeno-almoço em paz e
volto para a cama.
Apenas nos meus sonhos te consigo perder.
Sempre escrevi mais por me sentir triste ou emocionalmente vulnerável do que feliz ou satisfeito. Não me parece ser um problema exclusivamente meu: será normal reagirmos mais fortemente às coisas que de algum modo colocam a nossa sobrevivência em causa. Ainda assim, de todas as maneiras de reagir que conheço, criar algo que podemos chamar “belo” de algo que nos doeu é a mais útil e bonita. Já que o trauma lá está, porque não explorá-lo?